Folha de S. Paulo – 07/04/2011

12abr11

A imagem mostrada acima faz parte da capa do jornal Folha de S. Paulo no dia 7 de abril de 2011.  A ideia é explorar a contextualização visual que ela nos proporciona e discutir até onde imagem e texto são co-dependentes.

Para melhor entender, a legenda dessa foto diz: “COM GÁS Soldado pró-oposição usa máscara em Abdijã (Costa do Marfim), em “bunker”, o presidente Gbagbo se recusa a deixar o poder” enquanto a manchete principal da capa é “Petrobras agora admite que gasolina pode subir“.

É claramente visível que são assuntos desconexos, uma vez que a alta da gasolina nada tem haver com os conflitos na África.

Sendo assim, gostaríamos de saber a sua opinião com relação a “não-relação” entre imagem/texto, proposto na Folha de S. Paulo.

A edição completa do dia 7 de abril pode ser vista diretamente no site da Folha, aqui.

Por Gabriel Mialchi



8 Responses to “Folha de S. Paulo – 07/04/2011”

  1. 1 Bruno

    Pra falar a verdade eu não sei o que dizer sobre isso .. eu assino a folha e li essa matéria e não consegui ligar as duas situações, a foto da África com o texto falando da Petrobrás, de gasolina, Brasil, etc. Porém é bem a cara da Folha dar uma dessas de vez em quando né.

  2. 2 Ivan

    A impressão que se tem é que eles desejaram apenas chamar a atenção para a notícia com a foto, um leitor desatento poderia pensar que o aumento do preço tem algo relacionado com guerrilhas, sendo que a imagem não condiz com o texto… É realmente intrigante como isso pôde ser publicado…

  3. 3 Blog Rackets

    A Folha tentou justificar a foto com o texto citado, mostrando que o aumento da gasolina no Brasil, acontecerá por conta do conflito civil que está acontecendo na Costa do Marfim, pois um dos principais destaques do país africano é a exploração de petróleo e gás. Por conta disso, o preço do barril de petróleo sobe no mercado e consequentemente os outros países vão sofrer com a alta e reajustar o preço para o consumidor final. Porém, o Brasil é auto-sustentável em petróleo, e esse conflito na Costa do Marfim não afeta diretamente aqui. Concluindo, foi uma tentativa falha de justificar um assunto com outro que não tem a ver com nosso país. Outro exemplo é o caso do Realengo, onde a imprensa quis justificar o motivo do assassino ter causado a chacina por conta dos jogos eletrônicos. Nos dois casos, desse citado no blog, e na matéria postada no O Globo que citei aqui (http://glo.bo/fteRJc), houve falta de apuração, de checagem dos fatos, de profissionais preparados. A imprensa brasileira está com o grande mal de querer tapar o sol com a peneira. E vai continuar.

  4. Não concordo que o preço da gasolina nada tenha a ver com o conflito africano. Todos os conflitos políticos levam os preços do petróleo para cimae portanto puxam consigo os preços dos combustiveis no mundo todo. Acho mais provável que a FSP tenha busca uma interrelação entre as imagens. Tipo “olha, tá vendo isso ái em cima, talvvez gere aumento de preço da gasolina por aqui”…

  5. 5 Raul Pereira

    Acho que de repente pode haver uma intenção em relacionar a sensasão transmitida pela fotografia, de espanto e medo, para a manchete, já que assim como é chocante ver soldados radicais de uma ditadura armados e mascarados, também é chocante (e para mim até um pouco mais… rs) ver o preço da gasolina subir e chegar aos R$ 3 por litro.

  6. 6 Babi

    O que se pode observar, é uma tentativa de relação, tendo a imagem e sua legenda como a causa do assunto abordado no texto, o que de fato deveria ser abordado de modo mais explicito e explicativo, tendo em vista que jornal abrange grande parte da população, e principalmente, as que mais são afetadas diretamente por causa desse aumento, apresentando então várias interpretações, um exemplo nítido é os comentários acima , cada um com seu ponto de vista.

  7. 7 Ricardo Pereira

    Bom, nós sabemos que um assunto nada tem a ver com o outro: a guerra civil na Costa do Marfim com a manchete que trata de um assunto interno ao Brasil. Qualquer relação entre foto e manchete que seja estabelecida pelo leitor é fruto de engano, tapeação. Em outras palavras, a associação induz ao erro. A função do jornalismo não é induzir o leitor ao erro, mas informar o leitor, esclarecê-lo, coisa que esse tipo de expediente não faz.

    Separadamente, a foto é muito boa e do ponto de vista editorial merece ser explorada. Entendeu a Folha que uma manchete sobre o conflito no país africano não interessa aos seus leitores da mesma forma que o aumento de gasolina no Brasil, por isso optou pela manchete sobre o segundo assunto que talvez não tenha produzido nenhuma foto interessante, de certo nenhuma foto tão interessante quanto a dos soldados. Uma solução simples seria trocar de lugar: a foto embaixo, a manchete em cima. Do jeito que está a manchete soa como legenda da foto, o que induz ao erro que comentei acima.

    Pode-se buscar um viés ideológico na escolha como está, de certo há, até porque a manchete é bem ruinzinha: este ‘agora’ de “Petrobrás agora admite que gasolina pode subir” não está claro na manchete, espero que esteja no texto, é o mínimo. Mas ao chamar atenção para o ‘agora’ na manchete sem esclarecê-lo na própria o motivo enfraquece a força da informação quase como se esse ‘agora’ não fosse tão importante para explicar os motivos da Petrobrás admitir que o preço da gasolina pode subir, até porque a manchete diz que a Petrobrás admite que o preço pode subir não diz que subiu nem que vai subir, é como se eu dissesse a “Barbara Bigon agora admite que pode ter um filho”, do ponto de vista informativo não significa nada. Ela pode ter esse filho agora que ela admite ao mesmo tempo que pode nunca vir a ter. O preço da gasolina vai subir um dia, mais chances de isso ocorrer antes da Barbara tem um filho, mas isso é óbvio, não precisa de uma manchete para isso. Imagina o efeito que teria se dissesse que “Petrobrás admite que preço da gasolina pode subir nos próximos dias”, isso geraria uma corrida aos postos, do jeito que está não gera reação nenhuma do leitor porque não explica nada, daí a necessidade de associar esta manchete fraca a uma foto ótima, violenta e negativa, de forma a passar essa negatividade da foto para a Petrobrás que admite que um dia a gasolina vai subir de novo. Quando? Não sei, nem a Folha.

  8. Levando em consideração que a legenda da foto é pequena tanto em informações quanto na tipografia, o foco primeiro ao se olhar para o recorde se faz em relacionar a imagem com a manchete e, sendo assim, as relações interpretativas se fazem muitas e abusivas, levando em consideração que são contexto diferentes, porém passíveis de serem relacionados. Pensando no movimento social que se tem divulgado bastante também por internet contra a subida do preço da gasolina, pode-se dizer que é um apontamento da sociedade brasileira contra uma causa estatal, assim como na Costa do Marfim tem-se o povo nas ruas clamando por uma decisão que lhes é maior, mas mesmo assim interferente. Por este viés foto e texto podem se relacionar, mas a superinterpretação que, segundoo Umberto Eco, é um processo em que extrapola-se a materialidade linguística, as relações propostas pelo texto entre sujeito-objeto, em prol de encontrar superrelações entre o que foi dito e as memórias discursivas do leitor e do inconsciente coletivo, tem-se quase um alerta, como se o jornal dissesse a quem pode ouvir e intervir: cuidado, que os brasileiros podem armar-se (e seja com qualquer tipo de arma) para lutar contra algo que lhes fere. Fez-se isso em outro Estado de Terceiro Mundo, porque não aqui?


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